10 de fev. de 2010

a pequena chama – juana de ibarbourou

"Eu sinto um amor selvagem pela luz.
Cada pequena chama me encanta e me ultrapassa.
Não é cada lume um cálice que conduz
O calor das almas que encontra em sua jornada?

Algumas são pequenas, azuis, tremelicantes,
Iguais às almas taciturnas e bondosas.
Outras são quase brancas: lírios fulgurantes.
Outras, quase vermelhas: espíritos de rosas.

Respeito e adoro a luz como se fosse inteira
Uma coisa viva, que sente, que medita,
Um ser que nos contempla, transformado em fogueira.

Assim, quando morrer, hei de ser, a seu lado,
Uma pequena chama de doçura infinita
Em suas noites longas de amante desolado."


IBARBOUROU, Juana de. "La pequeña llama", in Lenguas de diamante. Montevidéu, 1919. Tradução minha.

Juana de Ibarbourou (1892-1979) foi uma poeta uruguaia incrível. Começou a publicar seus poemas apenas com 16 anos de idade, antes de se começar a falar em modernismo aqui na América do Sul. Embora sua poesia seja composta de sonetos, versos com métrica e rimados, Juana influenciou muito sua geração e seus sucessores, não apenas no Uruguai, mas em todo continente e na Espanha. O desnudamento sincero da alma – muito além de fórmulas prontas e pastelões – impressiona, ainda mais vindo de uma mulher naquela sociedade. Suas obras completas já foram editadas três vezes na Espanha pela Aguilar, e ainda assim Juana nunca foi traduzida no Brasil. Abaixo, o soneto original.



La pequeña llama

"Yo siento por la luz un amor de salvaje.
Cada pequeña llama me encanta y sobrecoge.
No será, cada lumbre, un cáliz que recoge
El calor de las almas que pasan en su viaje?

Hay unas pequeñitas, azules, temblorosas,
Lo mismo que las almas taciturnas y buenas.
Hay otras casi blancas: fulgores de azucenas.
Hay otras casi rojas: espíritus de rosas.

Yo respecto y adoro la luz como si fuera
Una cosa que vive, que siente, que medita,
Un ser que nos contempla transformado en hoguera.

Así, cuando yo muera, he de ser a tu lado,
Una pequeña llama de dulzura infinita
Para tus largas noches de amante desolado."

3 comentários:

Sérgio Medeiros disse...

Gostei da tradução :-)
Notei a sua liberdade poética ao mudar a rima nas duas primeiras estrofes, no original o primeiro verso da estrofe rima com o último e o segundo com o terceiro :-)

Miguel Del Castillo disse...

Sergio, obrigado pelo comentario! Engraçado que essa liberdade foi um pouco natural, nao sei porque. Acho que quando traduzimos temos uma certa voz autoral, que permite esse tipo de coisa.

Grande abraço!

Ana Luiza disse...

atualiza migueeeel!!!