8 de set. de 2008

o fotógrafo

"(...) Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Foi difícil fotografar o sobre (...)"

[Manoel de Barros]

3 comentários:

Anônimo disse...

"Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela."

Ok, eu sou a lesma e, atualmente, não seria possivel fotografar a minha existência. ¬¬

[ Que comentário deprê. rs ]

Bjks!

Gil disse...

"Vi um amigo surgindo e um profundo desejo de encontrar com ele qualquer hora dessas..." Em tempos de máquinas digitais, fotografei o amigo, o surgindo, o profundo, o desejo e o encontrar com ele hora dessas!
Suas lentes são precisas!

Unknown disse...

No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
Manoel de Barros, descomeço